Levado pelas ondas do mar, o tempo percorre-se a si mesmo de forma indelével, simultaneamente lenta e veloz.
Entre as diferentes marés desenham-se anos e dias e, no balanço doce que por entre eles sente quem navega, passou quase despercebido o terceiro aniversário deste espaço onde, como concha à beira-mar esquecida, vou escrevendo apenas o que sinto vivo em mim...
No embalo contínuo, de natureza irrequita e intemporal, eterna e ainda assim volátil e efémera, esqueço-me de mim e deixo-me levar, procurando alcançar(-me) e descobrir(-me) a praia onde finalmente repousarei até que nova onda me recolha e me transporte até ao Grande Azul.
O poeta é um fingidor Rosália, 14/02/2008
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa, in Presença, n.º 36, Novembro de 1932
Os meus cantinhos