Era uma vez uma menina de oito anos que, dizia-se, saiu de casa da sua mãe para lhe fazer um recado.
Era uma vez uma menina de oito anos que, denunciou-se, desapareceu sem deixar rasto.
Era uma vez uma menina de oito anos cuja mãe, chorosa, surgiu em todos os noticiários e meios de comunicação social, chorosa, afixando cartazes apelando à descoberta do paradeiro da filha.
Era uma vez uma menina de oito anos que, descobriu-se, foi morta por quem a gerou (como chamar-lhe "mãe" agora?) e pelo padrasto.
Era uma vez uma menina de oito anos cujo desaparecimento mediático nunca foi acompanhado pela Imprensa estrangeira, cuja existência o Papa provavelmente desconhece, que era portuguesa e foi brutalmente morta pela pessoa em quem mais devia confiar, sem que alguma vez tivesse sido posto em causa o trabalho de uma força de segurança, cuja falta de meios não foi então questionada e cujos resultados da investigação tardaram mas chegaram.
Era uma vez uma menina de oito anos de cuja mãe ninguém disse "eu não quero acreditar que tenham sido os pais, pois, se isso aconteceu, onde chegará a Humanidade?", porque esta menina era portuguesa, pobre e não inglesa, filha de médicos ingleses.
Era uma vez a Joana, uma estrela que brilha com mais força nos nossos céus de há quatro anos para cá e de quem, hoje, (quase) ninguém se lembra.
Fica em paz, Joana.
Rosália, 12/09/2007
Os meus cantinhos