Acordei cedo para um sábado. Apesar de ligeiramente atordoada, decidi que hoje ia tentar rentabilizar ao máximo todos os minutos e segundos do dia que passa sem que, por vezes, dele demos conta. Não raramente acontece o mesmo com a própria vida.
O ritmo calmo do início deste fim-de-semana fez-se sentir e a disposição para apreciar os pormenores também. Sentada à secretária, enquanto passava alguns apontamentos a limpo e organizava os guiões de uma disciplina por entre as leituras a fazer para outra, dei por mim a sorrir ao constatar que as minhas quatro pestinhas (ultimamente meus anjos-da-guarda, que me seguem para onde quer que eu vá... sim, até mesmo para essa divisão em que estão a pensar - onde, ou fecho a porta, ou tenho companhia mal abra a cortina do duche) tinham vindo instalar-se aqui mesmo ao meu lado, em cima do sofá. Os catraios dormiam enroscados um no outro e na mamã e o pai, mais afastado, ia-me regateando umas festas de quando em vez. É muito senhor do seu nariz, mas nestes últimos tempos tem-se mostrado um autêntico poço de mimo. Costumo brincar e dizer que o Merlim é arraçado de cão, porque dá as patas, pede colo e comida e, se for preciso, mia a pedir tudo isto como se de um latido se tratasse!
Lá fora, a chuva caía continuamente. Entre apontamentos e conversas espaçadas com amigos que se encontravam online, a recordação deste mesmo dia há apenas meia dúzia de anos. Uma ponta de tristeza e angústia surgiu-me na alma, mas procurei de imediato afastá-la. Sei que não gostarias que assim ficasse, antes que te recordasse pelas melhores razões e, especialmente, nos melhores momentos. Assim o fiz e prossegui. Até agora...
Esta semana que me parece ter passado a correr foi também de imperceptível mas intensa reflexão interior, causada pelos mais diversos motivos; ainda assim, sei que estiveste presente em todos eles, nem que fosse pela procura daquele teu conselho sempre tão certo no momento mais oportuno.
Sei que não teria conseguido ultrapassar os dois grandes desafios que se me apresentaram sem duas coisas: a tua recordação e o apoio dos amigos, de um em particular (e, meu querido, chegou a hora da divulgação do teu cantinho por estas bandas!). Quando tudo me pareceu perdido e sem sentido, foi em vocês que busquei a resposta para todas as minhas dúvidas e, sem dúvida, encontrei-as. Claro que não olvido aqui o meu amor, mas ele sabe o por quê deste destaque...
Agora, oiço o temporal que grassa para lá destas janelas. Silenciosamente, sinto-me grata por ter todo este conforto à minha volta, por não ter de temer o mau tempo e penso em como tantas vezes nos deixamos levar por sentimentos menos bons, por coisas sem a menor importância. De repente, penso que há seis anos também estava mau tempo, embora não assim.
Sabes que tenho muitas saudades tuas, não sabes? Pensar que só querias vir para casa e passar o meu aniversário (é de hoje a oito... mas isso agora não interessa nada!) no teu cantinho... Na altura não entendi por que razão me foste "roubada", mal aceitei e só prossegui porque não saberia reagir de outra forma. Hoje em dia reconheço que tudo tem uma razão de ser e ter-te perdido teve várias, embora a dor da separação continue a fazer-se sentir, por vezes tão forte que me leva algumas lágrimas.
Curiosamente, hoje não chorei. Recordo-te ainda e sempre mas não com amargura ou sentimento de perda irrecuperável. Hoje impera a ternura, trazendo consigo o carinho e o amor que invadem o coração e me fazem recordar-te em toda a tua beleza. Hoje sorrio ao pensar em ti... e estendo-te uma flor, regada com as gotas da chuva que cai, sabendo que a colherás com um sorriso.
Até breve... Mil beijos.
Rosália ***
Os meus cantinhos