Este é o meu refúgio, o meu abrigo. Aqui espelho o meu eu, sob a forma dos meus pensamentos feitos palavras...
Quarta-feira, 23 de Março de 2005
Chegaste! Bem-vindo ao Mundo...
Sentada na minha secretária, olho em frente e procuro focar o meu olhar nas palavras espelhadas no monitor. Tento concentrar-me o mais possível, pois o trabalho é urgente.
A semana é mais curta por causa do feriado, há pessoas a faltar e a equipa está reduzida demais para o volume de trabalho que se adivinha.
Tenho de tentar concentrar-me... Mas como, se sei que a minha melhor amiga está internada desde as 08h00 da manhã para lhe induzirem o parto? Como posso eu sossegar?
Roo as unhas e tento não olhar para o telemóvel... Não me vai adiantar de nada.
De súbito, o aparelho começa a vibrar. Olho para o monitor e leio o nome do marido dela "Não pode ser! Já? Será que aconteceu alguma coisa?"
Atendo com um "Estou? Diz!" arrancado das entranhas, prenhe de ansiedade e dúvidas.
Para meu espanto, num misto de emoção, oiço o teu pai dizer: "Já nasceu!"
Fico incrédula. Dou um grito "Já nasceu? Como? Tão rápido?" Tudo pára ao meu redor. As pessoas ao meu lado olham para mim como quem diz "Enlouqueceu de vez!". Não me importa, não quero saber, não estou nem aí! Sou TIA!
Rapidamente o teu pai conta-me alguns detalhes (mais tarde, ao longo do dia, recebi os restantes por e-mail e falei com a tua avó materna)... Meu Deus, mal o oiço!
Já chegaste! Já fazes parte do nosso mundo... E começaste logo por trocar as voltas ao que estava decidido e ainda tiveste tempo de assustar os teus pais... Estou mesmo a ver... vais ser "fresco"!
Mal posso esperar por ver e ter nos meus braços os teus 47 centímetros e 2,400 quilos de peso, acabadinhos de chegar às 08h50 da manhã do dia 22 de Março de 2005...
Talvez tenha de esperar um pouco até lá, mas não podia deixar de registar a tua chegada neste meu cantinho que é também um bocadinho teu.
Adoro-te miúdo... E sei que tal sentimento será ainda mais intenso quando olhar para ti a primeira vez!
Bem-vindo ao Mundo, meu querido João Miguel... Que tenhas uma vida abençoada e feliz, na companhia dos teus papás que tanto te adoram e desejaram. Para eles, o maior abraço e mil beijos, ambos ricos em votos de felicidades.
Beijos da tua "tia" emprestada e louca...

Rosália


publicado por scorpiowoman às 00:37
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Terça-feira, 15 de Março de 2005
Querido João Miguel
Bebé, estás quase a entrar neste mundo louco em que vivemos. Sei que a tua mamã já está em trabalho de parto que, embora lento, pode desenvolver-se de um momento para o outro. Se tu queres sair cá para fora, acredita que todos nós desejamos muito que o faças, pois já não podemos esperar mais para te conhecer e ver o teu rostinho lindo. O médico diz que deves ser pequenino e gorduchinho. Aqui a “tia” anda em ânsias para te pegar ao colo e reza para que a roupinha que te ofereceu te sirva!
Eu e o “tio” Paulo vamos ser teus “tios emprestados”. Sei que não vai ser fácil, mas vais ter de te conformar. Sim, somos ambos completamente loucos, mas amamos-te muito e queremos que venhas depressa partilhar a nossa vida. Prometemos que, assim que Deus quiser, em breve terás um priminho (ou priminha, se a mãe Natureza fizer a vontade ao tio) para brincar e crescer ao teu lado.
Até lá, desejamos que chegues depressa e sem dares muito trabalho à mamã (porque depois é a tia quem a ouve, por isso vê lá!)... Para que todos possamos rejubilar com o teu nascimento.
Um grande beijinho da tia louca que te adora desde que soube da tua existência,

Rosália


publicado por scorpiowoman às 17:35
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Sexta-feira, 11 de Março de 2005
Renovação
Caminho pelas ruas do meu quarteirão, oculta na escuridão que me rodeia, absorta pelo cheiro da terra recém-molhada e da lenha queimada, cujo fumo se escapa pelas chaminés das moradias que se perfilam ao meu lado.
No meu corpo a memória do abraço que ainda me queima a pele, tão vivo na memória e que tanto me custou deixar, enquanto ali ficaste, deitado e semiadormecido, por entre os lençóis, testemunhas imóveis e silenciosas do ímpeto que nos assolou e tomou desprevenidos, fazendo-nos perder um no outro, um com o outro, até sermos um só, imenso em amor e ternura.
Nesses momentos vivo mais, sinto mais e apercebo-me de tudo com a consciente lucidez de como o meu corpo se sobrepõe à razão e se deixa levar, conduzido pela tua voz, pelo teu toque, pelo teu cheiro doce e inebriante.
Cresce então a plenitude inigualável da sensação única de me sentir em ti, embalada pelo sussurro dos teus lábios, dominada pelo toque de seda dos teus dedos, que percorrem cada curva, canto e recanto de mim, subjugada pela secreta luxúria que vais deixando escapar a cada instante que passa até que, juntos, nos regozijamos no prazer imenso alcançado.
É na exaustão que sucede o êxtase que então me quedo, sentindo o teu corpo quente ainda junto ao meu, o cheiro doce de ti em nós, olhando-te enquanto repousas ao meu lado, os teus braços rodeando-me, protegendo-me, acarinhando-me e prolongando a sensação de candura que sempre rodeia estes momentos.
Ergo-me lentamente, aconchegando-te e deixando-te imerso num sono leve e reparador, que por certo te fará despertar mais calmo e descontraído. Silenciosamente, arranjo-me e, ao ver os resquícios da chuva que nos embalou ainda há pouco com a sua melodia, decido sair um pouco. Além da frescura do ar renovado, anseio por sentir o cheiro da terra molhada, ver as ruas desertas, sentir a vida que flui novamente lá fora, tal como em mim. Olho o meu reflexo numa montra e nele encontro o espelho de nós. Redescubro então toda a doçura e pureza do primeiro encontro, do primeiro beijo, da primeira vez...
Decido surpreender-te, embora ainda não saiba bem como, mas certamente me ocorrerá algo, ainda que mais não sejam do que estas meras palavras...
Amo-te.

Rosália


publicado por scorpiowoman às 14:32
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Quarta-feira, 9 de Março de 2005
Navegando
Por vezes, sinto que estou só, num enorme navio à deriva, rodeada pelo oceano infinito, sem mapas nem cartas marítimas por onde me guiar, desprovida de astrolábios e sextantes que me orientem quando olho para o magnífico céu estrelado que se estende lá no alto, enquanto a lua brilha, redonda, plena e imensa, em todo o seu esplendor. Do alto do convés, caminhando lentamente em direcção à proa, contemplo este cenário como se de uma mera espectadora me tratasse, escutando o sussurro suave e contínuo das ondas que me rodeiam e me fazem viajar no seu dorso, vestida apenas pela espuma branca e rendilhada.
Olho para o lado em busca de algo ou de alguém que me faça sentir um pouco mais segura e confiante. Quando menos espero, lá estás tu, calmo e sereno, olhando ternamente para mim. Quantas vezes é essa tua atitude tranquilizante e pacífica que me devolve a serenidade ao espírito, o brilho ao olhar assustado, que então se acalma. O rumo perdido é de novo encontrado e, ainda que pouco visível ou mal delineado, sei novamente por onde devo enveredar.
Ao teu lado a vida ganha outro ritmo, mais calmo e doce, que parece tornar tudo o resto tão mais fácil do que quando estava sozinha. Encontrei o amor, a ternura, o carinho e a paixão. Semeei amizade e companheirismo e colhi o maior amigo que alguma vez sonhei encontrar, o namorado e o marido, amante e companheiro que nunca ousei pensar ter ao meu lado. Encontrei-te a ti, meu amor, só e tão perdido quanto eu. Estendemo-nos os braços mutuamente e no nosso abraço encontrámos muito mais do que uma razão para viver, pois entendemos ambos que é da partilha de nós que nasce a vida de um só e também de ambos, todos os momentos, a cada dia que passa. A promessa de um novo ser está ainda por cumprir mas, como em tantos outros momentos desta minha vida que é também tua e nossa, sabemos ambos que nada melhor do que deixar o tempo passar, continuando sempre a lutar por aquilo que mais desejamos: a felicidade no nosso ninho, no nosso lar. Por isso sei que, ainda que me veja à deriva no oceano, terei sempre uma estrela para me guiar, que é o teu amor.
Estou feliz ainda que, por vezes, me sinta tão só como quando realmente o estava. Todavia, nesses momentos menos bons, em que tudo parece falhar (seja por causa do trabalho, seja por nos desentendermos acerca de algo), sei que estás ali, sempre comigo, bem dentro do meu coração, que, a cada batida, sussurra e ecoa o teu nome no espraiar da espuma de cada onda do oceano...

Rosália


publicado por scorpiowoman às 12:40
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Terça-feira, 8 de Março de 2005
Ser Mulher
Temos em nós a fonte de toda a vida, somos o berço da Humanidade e essa é, talvez, a plenitude da nossa existência.
Somos amadas, queridas, temidas, odiadas, mas não passamos despercebidas.
Somos tidas, possuídas, usadas, maltratadas, mas ainda assim (sobre)vivemos neste mundo que não se decide entre a ambiguidade do querer e do poder, do respeitar e do ignorar, da igualdade tão desigual em que quase sempre nos encontramos.
Por mínima que seja, há sempre uma razão para sermos recordadas. Não somos imunes. Não passamos incólumes.
Damos vida à vida e por isso não é a mesma que passa por nós, antes fazemos questão de marcar a nossa passagem por ela. Marcamo-la com a nossa personalidade, o nosso perfume, o nosso ser e os seres que de nós brotam para lhe dar continuidade.
Ser mulher é ser humana, criança, adolescente, adulta, mãe, amiga, companheira, namorada, amante, esposa, divorciada, viúva, tão só mulher. É ter a oportunidade de dar vida à vida e agarrá-la, não a deixando escapar, ainda que o possamos fazer de tantas formas que não apenas uma. É conhecer o verdadeiro sentido da palavra amor em todas as suas vertentes e não somente resumido à sua mais pura e básica essência, tantas vezes desprovida do sentimento em si.
Ser mulher é um dom, uma benção, também transformado em dor e maldição neste mundo louco em que vivemos e tão pouco compreendemos. Ainda assim prosseguimos, pois essa é a razão de ser da própria vida e da nossa existência, que lhe dá brilho e cor.
Ser mulher é viver, reflectir e pensar, sempre, que tanto haveria ainda por fazer e dizer neste dia em que, mais do que nós, cidadãs de uma sociedade livre, ocidental e democrática, não podemos esquecer aquelas que sofrem às mãos da ignorância, da superstição e de medos ancestrais e culturais que lhes impossibilitam a tão merecida emancipação, quanto mais não seja ao limiar da condição humana, para que deixem de ser tratadas como (ou abaixo de) animais.
Ser mulher é olharmos para nós e aqui encontrarmos o reflexo de tantas outras almas que descobrem no nosso coração, na nossa alma e no nosso poder de acção, de fazer a diferença, a esperança para sonhar com um amanhã diferente.
Cá ou lá, em qualquer parte do Mundo, ser mulher é ser diferente, pela consciência da vida que qualquer mulher transporta dentro de si, pela sua natureza. Difere a forma como cada nação encara esse facto, cultural e socialmente. Ainda que não tenhamos de pensar todos da mesma forma, é urgente que o respeito pela condição humana daquelas que ainda hoje são desprezadas e espezinhadas, pela cultura ancestral ou pela mera ignorância, comece a ser encarado como algo tão urgente como evoluir tecnologicamente, por exemplo.
Afinal, ser mulher é olhar para o céu, ver o sol e saber que, mesmo nos dias cinzentos, teremos sempre um motivo para sorrir, ainda que sejamos apenas nós mesmas.
Ser mulher é muito mais do que um dia marcado no calendário internacional ou mundial, mas se o mesmo é necessário para que sejamos cada vez mais alvo de respeito e igualdade, então celebremos a data, se possível, fazendo algo para que o verdadeiro significado não seja esquecido e encontre o seu eco num futuro que, desejamos, esteja próximo.

Rosália


publicado por scorpiowoman às 08:52
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Quinta-feira, 3 de Março de 2005
Madrugada
Por entre os primeiros raios de sol da manhã que agora desperta, num cinzento baço que vai dando lugar a um azul brilhante e intenso, vislumbro o vulto de um corpo estendido sob o abraço quente e acolhedor de lençóis e cobertores.
Um leve movimento, quase imperceptível, dá-me a entender que o despertar se adivinha em breve, mas nada digo. Quedo-me a olhar para ti, sem mais, num gesto de pura simplicidade. Não penso em nada. Sinto apenas a ternura e o carinho que me tornam incapaz de desviar o olhar.
Penso em ti, no teu corpo. Adoro sentir a tua pele de encontro à minha, enquanto dormimos no abraço que faz de nós um só, como se cada pedacinho de ti fosse também parte de mim. O teu calor, esse, é a fonte do meu sono, dos meus sonhos, a última e primeira sensação de cada dia que passo ao teu lado.
Apesar do frio gélido que se faz sentir, ergo-me lentamente. Envergo um agasalho e obrigo-me a caminhar um pouco, espreguiçando-me e afastando os resquícios de sono que ainda me toldam o pensamento. Deixando-te calmo e tranquilo, saúdo silenciosamente o resto da família, distribuindo festas, colo, mimos e brincadeiras entre cabeças, caudas e olhares vivos e traquinas. Um gesto comum aos quatro felinos dá-me a entender que necessitam de água e comida. Dirijo-me à cozinha e trato de, por entre ralhetes e tropelias, encher comedouro e bebedouros. A Brida ignora a tigela e prefere beber da torneira, pelo que deixo um fio de água correr um pouco, até estar satisfeita.
Pouco depois, aconchego o agasalho e olho pela janela. À minha frente, a vida começa também a despertar lá fora. Vejo e ouço as pessoas que caminham, apressadas, para se dirigir aos carros estacionados na rua e na praceta, percorrendo ao caminho que as leva até à estação ou apenas ao mercado. Escuto o ligar dos motores, o funcionamento do limpa-párabrisas, procurando remover o gelo com consecutivos esguichos de água.
Está quase na hora de tocar o despertador, de voltar a ti. Encontro-te como te deixei, calmo, tranquilo, ainda imerso no sono dos justos.
Suavemente, acaricio o teu rosto, o teu cabelo e olho-te enquanto despertas. Sorris. O teu “bom-dia” chega até mim quente e doce, faz-me sentir querida, amada.
Estendes os braços e puxas-me para ti, prendendo-me uma vez mais no teu abraço que é também meu, é nosso. Ergues-te e, juntos, começamos mais um dia, mais uma jornada neste mundo louco que conscientemente esquecemos e ignoramos no seio do nosso lar.

Rosália


publicado por scorpiowoman às 09:32
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Quarta-feira, 2 de Março de 2005
Parte de mim
Sinto na pele a saudade de ti, que me impregna o ser, desviando-me de mim.
Sinto na pele o desejo de te amar, tocar, abraçar, provar...
Sinto na pele a fome sem nome de um ser que agora desperta para a vida.
Assim cresce em mim a força de um amor que a cada dia ainda mais das amarras se liberta, a sede de voar, de te poder alcançar e finalmente dizer:
- Meu amor, saberás tu como ao teu lado é bom viver?

Rosália


publicado por scorpiowoman às 09:53
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