No nada que a minha alma encerra surgiste.
Trouxeste a tua amizade, sob forma de luz, paz e carinho. Dela nasceu o Amor.
Aos poucos, lentamente, conquistaste a confiança que outrora alguém quebrara.
Devagar, carinhosamente, reconstruíste a acarinhaste o coração que outro despedaçara.
Não foi fácil. Ninguém disse que o seria. Por vezes, muitas, demasiadas, não é fácil.
Resististe.Fizeste-nos crescer, evoluir, continuar.
Quebrámos barreiras. Ultrapassámos obstáculos. Enfrentamos ainda hoje os que de novo teimam em surgir.
Nos piores momentos foi quando a tua presença mais se fez sentir.
Nas maiores desilusões, também.
A tua capacidade de perdoar parece infinita, mesmo quando te abandono em prol do que parece urgir mais do que nós.
Engano-me tantas vezes. E caio. Vou ao "fundo do poço" como é hábito dizer-se. "Como errei", penso.
No entanto, estás ali. Nada teve importância. "Temos tempo", dizes.
Teremos? Não será tudo isto que vivemos apenas uma mão-cheia de nada, um segundo, um grão de areia ínfimo e insignificante?
"Chiuuuu... Sossega. Não penses mais nisso. Pensar faz mal, lembras-te?"
As lágrimas correm, soltas, livres, fluindo furiosas ao longo do meu rosto, numa libertação há muito ansiada e tão pouco permitida.
Abraças-me. Acalmas-me. Suavemente, sussuras-me o que entendes de tudo isto, não evitando chamar-me à atenção porque tal também é preciso.
Soluço. Apesar de tudo, o sentimento que, durante muito tempo (demais até), abdiquei demais de nós oprime-me. Enraivece-me.
Sorris. "Temos tempo."
Como, se o relógio não pára? Se o que passou já não posso emendar? Sei que, se por volta do destino ficar sem ti, nunca me irei perdoar!
"Não penses mais nisso. Já passou. Ficou para trás. Tempo tempo", afirmas, proferindo estas palavras envoltas num abraço apertado, sentido, quase infinito.
Olho-te. Pela primeira vez em algum tempo, paro para o fazer.
No fundo dos teus olhos castanhos e quase translúcidos, descubro a resposta para a dor e a mágoa que me queimam o peito.
Posso ter errado nas escolhas que fiz. Não me arrependo, apenas deveria ter sido um pouco mais lúcida e fiel a mim mesma, não ter abdicado tanto daquilo que mais prezo na vida, mas fi-lo. Agora há que retomar o caminho e aprender que apenas o nosso coração nos pode dizer o que está certo ou errado, ainda que tal possa não ser interpretado da melhor maneira por quem nos rodeia.
Olho-te. Estás aqui. Ainda. Até quando? Não sei. Já não interessa. Não vou mais temer o dia em que tu ou eu nos cansemos de tudo isto, antes viver e aproveitar o pouco tempo que temos para nós. Na verdade, é isso que mais importa e me faz feliz.
O Amor é, no fundo, o segredo que comanda a vida.
Rosália.
Os meus cantinhos