Não sei porque me sinto assim, uma angústia agridoce no peito, uma emoção toldada no pensamento, um olhar perdido no vazio do horizonte há muito envolto na escuridão da noite.
Não sei porque teimo em pensar no que não posso ter, apenas sonhar alcançar, como nos sonhos que me embalam as noites e me fazem sentir menos só.
Não sei porque escrevo mas há-de existir uma razão para tal, ainda que não a vislumbre.
Não sei...
Apenas recordo, a cada instante, os ternos momentos plenos de doçura e imensurável carinho...
Eu não sei, mas houve alguém que adivinhou e transpôs tudo quanto sinto num poema cuja melodia me embala as manhãs e, algumas vezes, também o final do dia...
Eu não sei...
Diz-me: Saberei alguma vez?
Rosália, 28/09/2006
Foi Feitiço
(André Sardet)
Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite
me guia de dia e seduz
Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
ter o céu como fundo
ir ao fim do mundo e voltar
Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço! O que é que me deu?
para gostar tanto assim de alguém como tu
Eu gostava que olhasses para mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo um olhar em segredo
Só para eu te abraçar
O primeiro impulso, é sempre mais justo
É mais verdadeiro.
E o primeiro susto, dá voltas e voltas
Na volta redonda de um beijo profundo
Às vezes, ao ter a sorte de contemplar imagens como esta que aqui vos deixo, interrogo-me sobre algo muito simples:
Não seria muito mais fácil se esquecêssemos as divergências e nos deixássemos simplesmente guiar pelo instinto?
Dá que pensar...
Rosália, 18/09/2006
Na memória dos escombros ecoa ainda a vida de todos quantos ali estavam, viveram, permaneceram, passaram, morreram.
Na memória colectiva, assinala-se uma data cujas verdadeira amplitude e dimensão não creio alguma vez poderem ser totalmente concebidas na capacidade de entendimento do Ser Humano.
Na minha memória, a recordação do alívio por finalmente saber, muitas horas depois, que quem por lá andava estava bem, ainda que por um triz; a imensa tristeza e angústia por quantos não tiveram a sorte do mesmo final feliz.
Na memória, enquanto a houver, esta data ficará.
11 de Setembro de 2001.
Por vezes, o tempo não passa... nunca.
Rosália, 11 de Setembro de 2006
Foram longas as noites em que pensei não mais conseguir erguer a cabeça. Sempre que a porta se fechava, a realidade nua e crua de todo um vazio de razão de ser caía sobre mim. Todos os momentos passavam como um flash no meu pensamento. No final de tudo, pensava e sentia-me como a pior pessoa do Mundo, que não merecia ser feliz nem alcançar os seus sonhos... Foi então que bati no fundo e parei.
Ao cair, abri finalmente os olhos e constatei que a realidade era em muito assim pela minha falta de coragem em mudar o estado de coisas, por pensar demasiado em não ofender, muito menos magoar, quem não se importava sequer com as consequências dos seus actos, desde que estes lhe concedessem o prazer egoísta que procurava alcançar a cada nova investida.
Parei, mas desta vez lucidamente. Questionei-me sobre a melhor forma de escalar as paredes escorregadias e repletas do musgo de cinco anos de mágoas e ressentimentos, de dor e esquecimento. No último instante, descobri o meu verdadeiro querer, a razão para me guiar a mim mesma e esquecer quem não me merece.
Não quero mais pensar nem cuidar. Não quero mais importar-me, preocupar-me, abdicar de mim em detrimento de outrém. Não por quem escarnece, pisa e goza. Não por quem não merece o melhor de mim.
Quero chegar lá ao cimo, ver a luz, ser capaz de perdoar e de me afastar definitivamente do que apenas me destrói. Quero amar sim, começando por mim, de quem me esqueci durante tanto tempo por pensar que não merecia nada nem ninguém. Quero ter uma vida, um lar, uma família seja ela de sangue ou não; humana ou não , quero sentir-me realizada por mim e para mim, ainda que aos olhos de outrém tudo ou parte do que faço e onde me empenho não tenha valor ou razão de ser.
Egoísmo? Talvez... mas hoje todo o altruísmo de colocar determinadas pessoas em pedestais inalcançáveis e por elas tudo fazer e de tudo abdicar esgotou-se. Não posso mais. Não quero mais. Não faço mais.
Chamem-me egoísta mas, agora, eu estou primeiro!
Posso ainda não acreditar (nem colocar em prática) a 100 por cento, mas lá chegarei... Afinal, nunca é tarde para começar.
A ti digo-te apenas adeus. Cinco anos pesam muito, demais... Desejo que sejas muito feliz, acima de tudo que cresças e aprendas que, neste mundo, até os peões de um jogo de xadrez se cansam de ser constantemente manipulados.
Rosália, 07/09/2006
Caminho a passos largos, velozmente, tentando alcançar o fim deste caminho penoso que há muito trilho.
Na berma, deixo a dor das desilusões, dos esquecimentos, do usufruto e do abandono.
Naquele amontoado além, empilho todas as mágoas e os ressentimentos marcados neste corpo cada vez mais exangue e gasto.
Nos troncos das parcas árvores que me acompanham, gravo as lágrimas em forma de gotas de resina que derramei por todas as recusas que deveria ter firmado e não tive coragem sequer de ousar pronunciar.
Nas folhas caducas, as minhas memórias e lembranças que não mais restarão do que naqueles breves instantes da passagem do vento outonal.
Eis que chego ao fim.
Paro.
Sobressalto-me.
Sem saída.
Nada me resta a não ser eu.
Sem saída?
Talvez...
Terei coragem?
Quem sabe?
Sem saída...
Até ao grito final.
Rosália
06 de Setembro de 2006
A escrita hoje fica por conta d'outrém, que não tendo adivinhado os meus pensamentos à data de escrita do poema em epígrafe, melhor não teria feito se os tentasse descrever.
Apesar de tudo, penso em ti. Muito.
Deixo-me navegar... num olhar que perdi há muito.
Canção do Mar
(Dulce Pontes)
Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo
Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração
Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo
Os meus cantinhos