Possa o Novo Ano ser sinónimo de muita Saúde e Paz para todos vós na companhia de quem mais amam e vos estima.
Um brinde à Vida!
Rosália :*)
Aquecemos os nossos corações com memórias ternas e damos valor ao que realmente conta.
Enroscamo-nos na certeza de que a Amizade não tem tempo nem fronteiras.
Sonhamos com momentos felizes.
Boas Festas!
A Estrela
Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava
Grandes perigos na noite me apareceram
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a néon enfeitada
A minha solidão me pareceu coroa
Sinal de perfeição em minha fronte
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era de um ferro
Tão pesado que toda me dobrava
Do frio das montanhas eu pensei:
«Minha pureza me cerca e me rodeia»
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza das coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu
E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram
Disse às pedras dos montes que falassem
Mas elas como pedras se calaram
Sozinha me vi delirante e perdida
E uma estrela serena me espantava
E eu caminhei na noite minha sombra
De desmedidos gestos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins desolados caminhavam
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava
E assim eles disseram: «Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela»
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada
Grandes noites redondas nos cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava
E a estrela do céu parou em cima
De uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza
Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água
Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado
Nesse lugar pensei: «Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto»
Sophia de Mello Breyner Andresen
In Cem Poemas de Sophia,
Ed. Revista Visão JL, 2004
Por estes dias, sente-se já no ar o aroma inconfundível de uma época única. Todos os anos vivemos a quadra natalícia, desejando Saúde, Paz e Amor a todos quantos nos são queridos e a nós mesmos.
Ainda assim, questiono-vos: Será que vivemos sempre o Natal com o mesmo Espírito, o mesmo sentimento?
Eu explico: Cada vez menos me sinto ligada ao Natal consumista que invade a nossa vida. Em Outubro já se vendia Bolo-rei e já se viam enfeites típicos espalhados pelos mais diversos espaços comerciais. Acreditem ou não, é algo que me faz uma enorme confusão. Claro que compreendo que não se podem deixar os preparativos para os últimos momentos, mas... Outubro? Não cabe no meu pensamento.
Este ano, por motivos diversos, mas também por sentir que queria fugir ao imediatismo/facilitismo comercial, optei por algo diferente: Fazer eu mesma as prendas para quem realmente conta na minha vida, dar um bocadinho de mim a quem faz parte de mim também. Não importa se é muito, pouco, grande, pequeno ou assim-assim, apenas que é sentido e sincero.
Ainda assim, também fiz (e farei ainda algumas compras), a maior parte das quais diz respeito a este desafio, que todos nós deveríamos acatar, mais não seja pelo fomentar junto das novas gerações desse dom inigualável que é o gosto pela leitura.
Eu já fiz a minha parte. E vocês?
Quando o mundo parece desabar sobre mim e tudo aquilo que acreditava ser verdade não foi mais do que uma quimera vivida a uma só luz.
Quando nada mais faz sentido e me questiono se vale a pena insistir, persistir e continuar, lutando no vazio abstracto do desconhecimento quase absoluto de ti.
Quando deixo de acreditar nos gestos, nas palavras, no ser.
Quando nada mais há do que as lágrimas que havia jurado não voltar a derramar.
Rosália, 5 de Dezembro de 2006
Até quando a tristeza impera é preciso sonhar, é preciso acreditar.
Depois das lágrimas de chuva, o beijo quente do sol num dia frio.
Após a solidão de mim, a companhia doce da memória de ti.
Um pensamento fugidio que se aquieta e permanece.
Hesito.
Acredito.
Em mim.
Em ti.
No que ainda desconhecemos mas há muito sentimos.
Sonho.
Desejo.
Espero enfim.
E escuto...
Chave dos sonhos
Luz sai da frincha, é manhã
Sei que o dia já desarvora
Chave dos sonhos na mão
Olho-te e vais embora
Sais pela rua veloz
Sinto a brisa do teu corpo perto
Chave dos sonhos guardei
No quarto já deserto
Passei a noite em claro
Passei p'la noite em ti
E abri com a chave dos sonhos
A porta e a varanda que em sonhos abri
São mais confusas agora
As imagens que em ti eu tocava
Eram do sonho ou de olhar
O que o prazer mostrava?
Chave dos sonhos na mão
Entrarei em qualquer fechadura
P'ra lá da porta, o melhor
É sempre da aventura
Guardo com a chave dos sonhos
Segredos que o corpo merece
Se alguém não quis arriscar
Então que o não tivesse
Ontem arriscaste mais
Do que uma simples coisa exigia
Deste-me a chave dos sonhos
O caos e a harmonia
- Luís Represas -
Rosália, 4 de Dezembro de 2006
(imagem daqui)
É assim nua e prostrada que adormeço e acordo dia após dia.
É assim escondida entre o céu e a terra que teimo em viver e respirar, indagando até quando durará esta dor surda que trago dentro de mim, escondendo-me na cegueira que tão cedo aprendi a usar, aquela que me oculta o que está lá, que dói e sempre doeu, que existe e permanece e me recuso a ver, por não querer acreditar ou, se calhar, apenas sentir, por não querer mais dores nem mágoas, recusar verter mais lágrimas, que ainda assim correm livremente pelas minhas faces, como um veloz rio o faz entre as margens sinuosas que acolhem o seu leito.
É assim que grito no silêncio, expludo no vazio e choro no abstracto de mim.
Inevitavelmente, a responsabilidade e a obrigação superam a desmotivação e o medo (sim, é verdade, às vezes tenho medo de viver, ainda que consciente de que a vida e cada seu dia são uma dádiva, que deve ser aproveitada até ao mais ínfimo segundo. Serei a única?).
Enveredo numa batalha quotidiana que é o aprender a saber viver só, a estar só, a sentir-me só. Guerreio contra mim mesma para continuar, nunca parar nem me deixar vencer pelo desânimo e pela frustração que teimam em persistir, em fazer-se anunciar nas alturas mais críticas e que, se calhar, deviam ser as melhores de mais uma época festivamente marcada no calendário.
Seria mais politicamente correcto ocultar o que sinto ou, ao fazê-lo assim, pública e despudoradamente, apenas espelho a verdade quando me deixo levar pela escrita impetuosa, alimentada pelo som da melodia ditada por um qualquer violino mais impertinente?
Vibro no ritmo e pergunto-me por que não na vida.
Vivo na escrita e questiono-me por que não fora destas quatro paredes, onde tudo sempre me parece tão frio e impessoal, tão semelhante ao vazio que preenche os meus dias ao saber que tu não vais estar ao meu lado.
Indago-me até que ponto me conhecerás e como conviverás com momentos como este, em que o Mundo parece desabar sobre mim e me sinto sem forças para continuar e insistir uma vez mais.
Questiono-me: Serás capaz?
Tenho medo e, ainda assim, sinto todas as minhas teimosia e persistência obstinada à flor da pele, prontas para entrarem em acção e me fazerem lutar por aquilo que acredito serem as minhas ambições.
Sinto desalento e, no entanto, encontro ânimo, nem que seja nas mais pequenas, ínfimas ou até insignificantes coisas: um telefonema, uma mensagem, uma carta. Também as há de maior importância, aquelas que quase não se conseguem descrever, por não existirem palavras que comportem todo o seu significado: um olhar, um toque, uma festa, um abraço, um carinho, um beijo.
Esta sou eu. Estes são os meus pensamentos que se perdem por entre o eco da solidão que me rodeia.
Este é, sei-o, um dia mau. Amanhã será certamente melhor e, depois de amanhã, outro dia virá.
É assim que me desnudo e me exponho ao Mundo, senão todos os dias, pelo menos hoje, aqui e agora.
Rosália, 3 de Dezembro de 2006
É nesta dúvida da incerteza premente que mais dói a ausência de ti.
É nos segundos incontáveis dos minutos infinitos das horas eternas que a distância se sente.
É saber-te aqui tão perto e, no entanto, tão longe.
É viver no quotidiano o alcance inalcançável de ti, do teu ser que é muito mais para mim do que alguma vez quis ou desejei ou sequer sonhei.
É viver e saber que talvez o final de tudo isto não seja assim tão feliz, mas que o que mora dentro de mim não morrerá nunca e é uma das poucas mas grandes alegrias que, neste calendário da vida, tão cinzento e áspero, inesperadamente encheu de cor e doçura o meu âmago.
É esperar, pois quem espera, sempre alcança.
É ser, estar, sonhar, desejar, pensar, amar.
É viver e morrer.
É difícil e, por vezes, tão fácil.
Apenas é.
Tudo e nada.
Muito e ainda assim pouco.
És
Os meus cantinhos