Este é o meu refúgio, o meu abrigo. Aqui espelho o meu eu, sob a forma dos meus pensamentos feitos palavras...
Quarta-feira, 29 de Abril de 2009
Vazio...
Entro no meu quarto e há algo diferente que me incomoda. A mobília é a mesma, a confusão gerada pela falta de tempo (e às vezes de paciência) para ter tudo certinho e arrumadinho também... mas quando olho para o fundo da parede, rente ao chão, bem ao lado da mesinha de cabeceira que fica do meu lado da cama... que vazio!
Onde está a tua caminha, forrada a toalhas e mantinhas, sempre assente em dois tapetes (para o frio não te chegar... e o molhado não chegar tão depressa ao chão também)? Onde está a passadeira com as tacinhas da água e da ração? Onde estás tu, meu velhotinho? Meu doce e terno Koala?
Depois lembro-me... pois é, estás algures lá em cima a olhar por mim.
Dou meia-volta e estranho já não ver a manta polar sobre a coberta do edredão... Que coisa! Mas onde está ela? Ah... pois, já não é precisa. Tal como as tigelinhas com água e ração do outro lado da cómoda, perto daquele sítio vazio onde estava o areão mais pequeno. Tu, meu doce Trinca, também já não passas as noites enroscadinho ao pé e mim. Adormecia sempre contigo junto aos meus pés... e acordava a sentir-te ali bem ao meu lado, na almofada ao lado da minha, ronronando ou, simplesmente, dormindo suave e serenamente.
Suspiro... os meus dois velhotinhos já não dormem comigo e o meu quarto tem um vazio enorme que me custa a encarar todas as noites ou (quase sempre) quando lá entro.
Também quando estou nas lides gastronómicas, ou me sento a tomar alguma refeição, seja na cozinha ou na sala, já não preciso de estar em constante alerta para evitar que tu, meu Trinca reguila, me roubes a comida do prato, como daquela vez em que tive de andar a correr atrás de ti, enquanto "sprintavas" casa fora, orgulhosamente, com uma costeleta bem presa na dentuça! Já não preciso de estar "com um olho no burro e outro no cigano" enquanto estou a fritar bifes, não vás tu, destemidamente (como sempre foste), saltar para cima do fogão, não querendo saber se o lume está aceso ou não, para roubar um naco de carne ainda a saltar no quente do azeite e dos temperos.
Sei que agora estás num sítio melhor, onde não sofres e, certamente, és muito mais feliz... talvez até junto do Koala, quem sabe?
Sei que vocês, minhas duas estrelas brilhantes, me alumiam e olham por mim...
Sei que tenho os vossos "manos" para me ocuparem e a quem me dedicar, mas vocês também sempre souberam que cada um de vós é único para mim... Muitos ou poucos, todos são especiais e têm o seu cantinho neste meu tolo coração de manteiga.
Só que mesmo sabendo tudo isto... o vazio que sinto é tão grande.
Tenho tantas, mas tantas saudades vossas... de quando vocês estavam bem e, juntos, tivemos momentos felizes.
É a esses instantes que me agarro quando, agora, já não preencho parte das minhas manhãs e dos meus fins de tarde a cuidar de vocês e sinto que me faltam tanto esses gestos, essa companhia, esse sentir de vocês em mim quando vos tratava...
Perdoem a tolice da dona, mas o que querem?
Vocês partiram ambos com 19 dias apenas de apartamento entre cada um... A dona não é de ferro e as saudades que tem vossas começam agora a doer e muito.
Vejam lá se, aí em cima, descobrem um raiozinho de sol e o conseguem mandar cá para baixo, para que os meus dias sejam um pouco menos cinzentos e, em lugar de saudades, possa sentir conforto...
Só queria que este vazio fosse menos doloroso...
Adoro-vos, meus amores...
Rosália, 29/04/2009
PS: A todos os que por aqui passarem... Perder dois companheiros em tão curto espaço de tempo deixou-me menos bem. Acordou fantasmas passados, temores adormecidos, lembranças dolorosas, relacionadas com outras perdas não tão antigas assim.
Esta missiva é apenas uma forma de tentar lidar com um luto teimoso, persistente... Só consigo fazê-lo escrevendo.
No meu dia-a-dia, infelizmente, resta-me "desenhar" um sorriso e fazer de conta que está tudo bem. Há já algum tempo que passo os meus dias a fazer de conta, minuto após minuto, hora depois de hora. Ao menos aqui, no meu cantinho, posso permitir-me extravasar um pouco do que sinto... e, acreditem, esta é apenas uma "gota"...
Aos meus amigos, do Trinca e do Koala, obrigada por entenderem e por todo o vosso apoio. Sempre.
Quinta-feira, 23 de Abril de 2009
A Ponte do Arco-Íris
Desde a última madrugada que uma estrelinha brilha mais alto lá bem em cima, no Céu dos Gatinhos.
O Trinca descansou, passou a Ponte do Arco-íris e foi ter com os seus amigos, que certamente o esperavam. Acabaram-se o sofrimento, a dor, a luta constante para respirar...
O meu menino lutou até ao fim... morreu ao meu lado, na minha cama, depois de eu ter finalmente adormecido de cansaço. Quando acordei durante a madrugada, ele já havia partido para um lugar isento de sofrimento e maus tratos, com os quais tanto teve de lidar em vida...
Estou a mentalizar-me disso mesmo. A tristeza é grande, mas sei que irá passar...
A todos vós, que nos apoiaram nesta luta desde o último fim-de-semana, fosse com uma palavra de carinho, um gesto de apoio ou um simples "estou aqui", o meu obrigada por terem estado sempre presentes, torcendo pelo melhor para ambos.
Rosália, 23/04/2009
Domingo, 19 de Abril de 2009
Por um fio...

... assim estás tu, na luta contra uma doença maldita que parece não largar nem humanos, nem animais.
Tens sido um guerreiro, suportando estoicamente a medicação e as "maldades", demonstrando um espírito aguerrido e amante da vida.
Por isso me custa tanto ver-te assim, inerte, como que soçobrando e entregando o estandarte ao adversário.
Não quero que desistas, não agora que estavas a recuperar tão bem.
Depois de uma vida de sofrimento e maus tratos, de seres sovado para não comeres, de estares coberto de feridas... encontraste aqui o teu refúgio. Aprendeste a confiar novamente, a brincar com os "manos" cá de casa, engordaste e o teu pêlo ganhou um brilho lindo, deixando esquecido num cantinho da memória o tom baço e o toque àspero da palha-de-aço.
Agora isto, este malvado linfoma que te sugou novamente as forças e te minou fisicamente. Não é justo.
Há lutas que, sei-o bem, são inglórias, mas não deixam de doer e atormentar a alma.
Aguenta-te meu doce... só mais um pouco.
Também eu começo a estar como tu...
Por um fio...
Rosália, 19/04/2009
Sábado, 11 de Abril de 2009
Aos meus amigos...
(Praia das Maçãs, Novembro de 2008)
Obrigada pelo vosso apoio, acima de tudo pelo vosso carinho.
Não está a ser fácil, mas há-de passar...
O Koala terá sempre um cantinho no meu coração e boas lembranças na minha vida.
A tristeza ainda é muita, o pesar também, mas há-de passar...
Afinal, tenho os "manos" dele para tratar e uma "famelga" de quem cuidar.
Tenho-me a mim e, acima de tudo, a quem é importante para mim e tem estado sempre do meu lado... como vocês.
Obrigada.
Rosália, 11/04/2009
Terça-feira, 7 de Abril de 2009
Algures...

Passará esta dor alguma vez?
Sinto-me imersa em mim mesma, perdida entre razão e emoção, sem saber o que fazer para me perdoar da decisão que tomei.
Quero libertar-me, mas não sei como.
Quero viver, embora tudo me lembre a morte.
...
Rosália, 07/04/2009
Somewhere
Within Temptation
Lost in the darkness, hoping for a sign
Instead there is only silence,
Can't you hear my screams?
Never stop hoping,
Need to know where you are
But one thing's for sure,
You're always in my heart
I'll find you somewhere
I'll keep on trying until my dying day
I just need to know whatever has happened,
The truth will free my soul
Lost in the darkness, try to find your way home
I want to embrace you and never let you go
Almost hope you're in heaven so no one can hurt your soul
Living in agony 'cause I just do not know
Where you are
I'll find you somewhere
I'll keep on trying until my dying day
I just need to know whatever has happened,
The truth will free my soul
Wherever you are, I won't stop searching
Whatever it takes, need to know
I'll find you somewhere
I'll keep on trying until my dying day
I just need to know whatever has happened,
The truth will free my soul
Domingo, 5 de Abril de 2009
A estrela mais brilhante...
Koala Snoopy (??/??/?? - 04/04/09)
... desta noite, no céu que brilha sobre mim, além das luzes urbanas, serás certamente tu, meu doce e terno Koala.
Terminou, por fim, o teu sofrimento..
Do pouco tempo que tivemos juntos (desde Julho do ano passado), durante o qual usufruí da tua companhia, restam as alegrias de uma recuperação considerada milagrosa, o aprender (ainda mais) que a vida é feita de oportunidades, coragem e perseverança, o consolo de sentir o teu calor quando te aninhavas no meu colo, a ternura de quando passeavas, a medo, pela estrada da praia, sentando-te a meio da subida, pedindo colo porque as tuas patinhas já estavam cansadas de tanto calcorrear por esta vida fora, a revolta quando te soube deitado fora como lixo num parque de estacionamento...
Foste um lutador, pacífico, gentil, meigo.
Perdoa-me por não ter conseguido fazer mais do que, ao fim do tempo que estivemso juntos, dar-te paz.
Até sempre meu tesouro.
Rosália, 05/04/2009