Só me apetece deixar-me embalar por esta melodia.
Boa semana.
Rosália, 22/06/2009
Cada lugar teu
(Mafalda Veiga)
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só
Eu Vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar
... para as escadas ou como uma bela manhã de sábado pode culminar numa queda dolorosa! Ainda hei-de descobrir se se pode processar uma junta de freguesia por incúria dos espaços públicos. Não bastava ter torcido um pé por conta da calçada polida e esburacada de uma das principais avenidas cá do sítio. Não.
As escadas em calçada portuguesa que fazem a ligação entre as traseiras e a frente dos prédios de outra via movimentada aqui da terra (por sinal, acesso também ao sobrelotado Centro de Saúde), mais velhas do que eu, também já precisavam de uma bem merecida manutenção, mormente por se encontrarem demasiado polidas e esburacadas pelos anos que passam e pelos maus tratos de que são alvo.
Que o digam as minhas costas que, no passado sábado, contaram os degrauzinhos todos (vá lá que não são muitos, mas ainda assim...)... chovia torrencialmente e entre cai e não cai foram escassos os segundos entre o chão que falha e a dor que se sente depois de uma queda desamparada. Felizmente, tirando as mazelas próprias, nada de grave houve a assinalar.
Contudo, e se fosse um idoso sozinho? Ou uma criança pequena que, num rompante, fugisse aos pais?
Férias? Até estão a ser (quase a acabar), mas há coisas que me deixam mesmo "virada do avesso". Sucessão de acasos infelizes e incúria de entidades públicas, ainda para mais juntas, são das piores!
Enfim... Bom feriado e... cuidado com as quedas!
Rosália, 10/06/2009
Há já muitos anos, o fado era som comum nestas paredes que hoje habito, visto ser gosto cultivado pelas gerações que me antecederam e cá me deixaram após a sua partida.
Hoje, redescubro os seus poemas sob uma outra sonoridade, que primeiro se estranha e depois se entranha, mas destacando-se o poema que, de outra forma, morreria sem apreciar, pois não ouço Amália há mais de dez anos, uma década quase volvida que marca não só a sua morte como principalmente a da minha mãe (no mesmo mês)...
Hoje aprecio o talento daqueles cujas carreiras em nada diria apreciarem esse som, esse marco, mas cuja revelação me deixou sem chão e me fez render, num voo tão longo como o de uma gaivota que se deixa levar pela brisa da beira-mar...
Hoje rendo-me à voz de Sónia nas palavras de O'Neill um dia cantadas por Amália.
Rosália, 03/06/2009
Gaivota
(Alexandre O'Neill / Alain Oulman)
Trazer-me o céu de Lisboa
No desenho que fizesse,
Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa,
Esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
Dos sete mares andarilho,
Fosse quem sabe o primeiro
A contar-me o que inventasse,
Se um olhar de novo brilho
No meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu,
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro,
Esse olhar que era só teu,
Amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
Morreria no meu peito,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração.
... ligo o PC e a primeira coisa que me aparece é uma mensagem de alerta e o som de uma sirene a alertar para a presença de um vírus intrusivo e perigoso...
... o carro, apesar de parado e de recusar-se a arrancar, parece ganhar vida própria, desde acender luzes (faróis e piscas) a brandir furiosamente os limpa-pára-brisas como se não houvesse amanhã, apitando simultaneamente em tom estridente e, depois, sem que eu tivesse feito mais do que rodar a chave na ignição, se desliga subitamente e volta à sua condição de avariado...
... telefono para a assistência em viagem, para me rebocarem a viatura até à oficina, deixam-me "pendurada" ao telemóvel durante quase cinco minutos (e não... não é chamada grátis, pois a seguradora só tem um número fixo começado por 21... nada de borlas para quem já paga couro e cabelo por um seguro contra todos - ALD oblige) e ainda estou quase uma hora e meia à espera do dito reboque...
... da oficina me alertam que o arranjo poderá envolver a substituição de uma peça que, por si só, é mais cara do que o meu próprio salário...
... vou calmamente a caminhar pela rua na companhia de um amigo e, depois de um súbito tropeçar na calçada que está para reparar há anos e de um grito de dor, constato que torci, pela enésima vez, o pé esquerdo...
... vou ver se me saiu alguma coisa no último sorteio do Euromilhões e constato que, de facto, me saíram dois euros da carteira, mas prémio que é bom (nem que fosse o mais baixinho) nicles...
... tenho vontade de gritar bem alto e dizer palavras menos bonitas!
Tenho mesmo!
Ó senhores do Karma, Destino ou o que quer que lhe chamem...
A malta nem é preguiçosa, bem pelo contrário: Tenho um emprego (sim, eu sei que até tenho sorte, mesmo com tudo o que se vai passando dentro daquelas paredes envenenadas... perdão, espelhadas), três colaborações (part-times, se preferirem), o meu próprio trabalho independente de artesanato (bordo diversos trabalhos em ponto de cruz, seja para oferecer ou tentar arranjar mais uns trocos para o mealheiro cada vez mais vazio), estico-me ao máximo para tratar dos duas e quatro patas que me rodeiam e são a minha família o melhor que posso e sei...
Dá para me darem uma folga? Mesmo estando de férias, não há nervos que aguentem... e os meus já estão "em franja" que cheguem!
Rosália, 01/06/2009
Os meus cantinhos