Já diziam tanto a minha avó materna (que me criou até à ida para a escola... naqueles tempos – felizes – até aos cinco anos, mais coisa, menos coisa) como a minha mãe.
Não, realmente não nos mata. Mas mói.
Não me mata ver os preços a aumentar e o ordenado há dez anos (sim, 10) sem crescer (apenas a decrescer, com taxas e sobretaxas e “aldrabices” do patrão que me tiraram quase dez contos – sim, contos, na moeda antiga, para que se tenha bem a noção – por mês e quase vinte contos em cada subsídio (sendo que isto foi feito no mês em que iria receber o subsídio de férias... sem aviso, nem pré-aviso e ainda com a “sorte” de, face ao período escolhido, o ter recebido (depois de reclamar durante quase uma semana, porque se tinham “enganado” e “esquecido” que era mês de pagamento... pois a partir de Agosto, toda a gente “ficou a ver navios” e o dito foi pago em prestações... até Dezembro. Mas mói.
Não me mata não me pagarem o vencimento de Dezembro porque, coitados, com a crise, não têm dinheiro e vão ter de pagar à semana (aos mais ricos) ou à quinzena (aos que recebem menos, o meu caso). Muito menos me mata que, faltando à palavra dada, não tenham cumprido e, hoje, dia em que deveria ter a minha “quinzenada” na conta, a mesma se encontre como tem estado... rasa, rasinha, quase tão lisa como uma tábua. Mas mói, se mói.
Não me mata ter de, mês após mês, ponderar cada vez mais as despesas e pensar se posso dar este ou aquele passo, com medo de depois me arrepender e o dinheiro fazer falta. Perder o sono a pensar como vou equilibrar o orçamento familiar para chegar um bocadinho a cada lado, pagar as contas, comer, conseguir ir trabalhar. Não, não me mata, mas mói.
Não me mata, nesta última semana, ver colegas com quem trabalho, funcionários “sem nódoa” que se lhes aponte, aqueles que realmente trabalham, produzem, são assíduos e pontuais, serem despedidos sem mais nem quê, alguns com quase tantos anos de casa quantos tem a própria empresa, sem dó nem piedade. Sem razão. Não, não me mata mesmo nada. Mas mói-me mais do que consigo, sequer, descrever.
Não me mata a crise. Matam-me todas as desculpas, ingerências, artimanhas e a desfaçatez que se acolhem sob a mesma, mascaradas, passando quase incólumes à vista de todos quantos teimam em usa-la como desculpa para um sem-fim.
Perdão, não, não me matam. Moem-me até à morte.
20/01/2012
Adenda: Não matou, de facto. Recebi a primeira metade do ordenado de Janeiro no dia 3 de Fevereiro... e hoje, dia 27 de Fevereiro, continuo à espera da imensa “fortuna” que são os restantes 333 euros que ainda não me pagaram. Ninguém recebeu. Ninguém sabe quando receberá e quem manda não sabe nem se, nem quando pagará. Nem sequer fazem ideia de quando cumprirão com o pagamento do ordenado de Fevereiro, já que nem o de Janeiro conseguem completar. Não me matou. Todos os dias pago para vir trabalhar, em vez de trabalhar para ser paga.
Não me mata. Mas mói cada vez mais.
Rosália, 27/02/2012
Muito antes de este dia ser sinónimo (muito comercial, sem dúvida alguma) da celebração do Amor, da exaltação do ser amado, de tudo quanto tradicionalmente (ou não) associamos ao amor que une duas pessoas, vocês escolheram a data de 14 de Fevereiro para unirem os vossos destinos, para se tornarem, enfim, um casal, almejando o tão esperado "e viveram felizes para sempre".
Assim, a 14 de Fevereiro de 1970 celebrou-se o matrimónio de Maria de Fátima e Fernando. Não foi para sempre, mas foi, sem dúvida, "até que a morte os separe".
Todavia, o mais bonito da vossa história ficou sempre por contar, porque as partidas da vida a isso obrigaram. Tal foi-me dado a conhecer aos poucos, um diário aqui, uma carta ali, muitas outras acolá e inúmeros bilhetinhos trocados entre ambos que parecem brotar dos livros mais inesperados.
Afinal, tudo quanto eu sonhava que podia ser, foi mesmo: Vocês tiveram uma linda história de amor e... olhem aqui o resultado :)! Demorei, mas cheguei e não podia estar mais grata por estar aqui e pela verdadeira bênção de vos ter tido como pais. Só tenho pena de não ter tido mais tempo convosco, mas tudo tem uma razão de ser, não é mesmo?
Mãezinha, lembro-me que, depois da partida inesperada do Paizinho para aquele lugar tão longe que não mais o pudemos ver, passámos a celebrar esta data entre nós. Era uma maneira de o mantermos (ainda mais) vivo dentro do nosso coração e presente nas nossas memórias. Havia sempre um miminho, sempre que possível a lembrar a vossa história, que marcava o dia. E eu sentia-me especial, porque sabia (sempre soube) que também este dia marcou o início de quem sou.
Paizinho, quem me diria a mim que só passados 25 anos (quase 26) desde que (não) me despedi de ti, começaria a conhecer-te melhor e a ver que, afinal, não somos assim tão diferentes? Que, apesar de quase nada me lembrar de ti e do pouco que me foi contado, temos tantos gestos, gostos e pensamentos em comum? Não imaginas o que foi descobrir-te, pelas tuas palavras, escritas pelo teu punho, quando encontrei as ímensas cartas que escreveste à Mãezinha enquanto andavas pelo Ultramar...
Agora que também eu vivo a minha própria história de amor, com bilhetes, postais, cartas e outras modernices como e-mails e afins, sinto que foi uma bênção poder resgatar as vossas memórias de um passado não tão longínquo quanto isso, mas até agora desconhecido para mim. Afinal, não somos assim tão diferentes e é finalmente chegada a hora de perder os medos e de sentir que mereço ser feliz, aconteça o que acontecer.
Hoje é dia de S. Valentim, Dia dos Namorados e celebra-se o amor.
Eu celebro a Vida e recordo-vos... sempre!
Aos meus Pais, Feliz Dia dos Namorados e Feliz 42.º aniversário de casamento :).
Amo-vos muito... e obrigada pelo enorme Amor que trouxeram à minha Vida :). Tudo farei para o estimar, conservar e acarinhar, porque Ele merece :). Nós merecemos!
Rosália.
(Foto retirada da net)
Os meus cantinhos