À semelhança do que se passa além daquela janela, através da qual estendo o meu olhar e tento distrair o espírito no estreito horizonte que se me apresenta, também eu me sinto indecisa entre sol e chuva, sorrir ou chorar, cantar ou calar. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Ainda há pouco, quando caiu um aguaceiro torrencial, a imagem do céu cinzento e da chuva a bater fortemente contra os vidros do edifício em tudo foi semelhante às lágrimas que todos os dias derramo (ainda que muitas vezes sem as mostrar ou sequer libertar) com a intensidade das saudades que sinto de poder estar junto a ti, tocar-te e abraçar-te muito, durante todo o tempo que me (nos) apetecesse.
Embora te sinta mais perto, questiono se será apenas a minha vontade de ti que me ilude e me faz aproximar ou se, de facto, é essa a realidade.
Podes não acreditar, mas temo o nosso reencontro, aquele que nunca mais tem lugar. Temo o lugar, o momento, as circunstâncias... Temo a tua reacção e ainda mais a minha, pois sei que será de extremos, entre correr para os teus braços, abraçar-te e não te largar ou simplesmente ficar parada, estática, sem conseguir falar ou mexer-me, sem saber o que fazer.
Essa é a maior realidade de todas. Não saber o que fazer.
Dizem que tudo vale a pena, mas eu, sinceramente, não sei se assim é. Já tentei esquecer-te, apagar-te da minha memória, mas isso apenas serviu para me fazer sentir ainda mais (como se tal fosse possível) a tua falta.
Agora, convivo diariamente (como sempre o fiz) com a tua lembrança, o sabor dos teus abraços na minha pele, o som da tua voz na minha mente, o calor do teu toque no meu corpo, a visão do teu olhar sereno e tranquilo, ávido de curiosidade por mim (nós?) a cada instante, as palavras que trocámos e ainda mais as que calámos, pelo receio mais puro e genuíno de pronunciarmos algo de que nos pudéssemos mais tarde arrepender, ainda que sabendo que era (é?) o que ambos pensávamos e sentíamos.
Sei que nunca pronunciarei estas palavras, que nunca as ouvirás ou sequer lerás.
Nunca digas nunca, diziam-me.
Será?
Rosália, 11/04/2007
Os meus cantinhos