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Sob um céu límpido e brilhante, sinto na minha pele a dança inebriante da brisa, que teima em brincar com os traços do ténue calor que desperta em mim, como se o próprio Sol, imponente e austero, me embalasse gentil e suavemente.
Por instantes, vejo-me obrigada a regressar à realidade. Olho o ecrã que se iluminou e escuto a melodia que toca e se perde por entre os ruídos do resto do mundo, que continua a sua marcha imparável fora de mim, enquanto no meu interior tudo pára, ao encontrar o teu nome na formação das letras que insiste em fazer-te chegar até mim.
Esqueço o azul, o calor, a brisa. Toda eu me transformo então e assumo a postura daquela que não sou. Torno-me fria, implacável. Amordaço todo o meu ser e todos os sentimentos, escondendo-os sob um manto impenetrável de indiferença credível, com o qual habilmente mascaro a minha voz. Em breves momentos, ouço-te e, ainda que sinta as feridas da saudade a surgir, escondo-as. Recolho-me em mim, como se à concha tornasse. Fim.
A máscara cai. Os olhos, escondidos sob as lentes que deveriam traçar melhor a realidade que me é exterior, que ainda há pouco assumiam uma expressão concentrada e centrada na não revelação do que realmente vive em mim, estão agora húmidos e apenas a habilidade da ilusão faz com que as lágrimas não corram soltas e finalmente libertas da sua prisão que sou eu. Retenho-as uma vez mais e prossigo como se nada fosse.
Iludo-me para não pensar em ti, procuro não lembrar a tua presença, o teu eu, o teu olhar, o teu toque. Silencio-te no calor da tua voz que não quero ouvir para não chorar mais.
Porém, é como se o azul do céu desmaiasse um pouco, a brisa se tornasse subitamente num vento frio que me incomoda e o Sol já não me embalasse, antes se escondesse, fazendo-me correr para o tentar alcançar.
Refugio-me dentro de mim e imagino-me exposta à força dos elementos, na beira de um qualquer areal, onde pudesse recolher-me a uma concha e perder-me ao sabor da maré, escutando as ondas tão perto e tão longe, deixando-me levar pelo grito silencioso da falta que sinto de ti.
Olho o horizonte.
Escutar-te-ei? Não sei.
Olhar-te-ei? Não sei.
Sentir-te-ei? Não sei.
A voz do meu silêncio é mais ruidosa do que tudo o resto.
A voz do meu silêncio são estas palavras.
A voz do meu silêncio és (tantas vezes) tu.
Rosália, 18/03/2007
Os meus cantinhos