(imagem daqui)
É assim nua e prostrada que adormeço e acordo dia após dia.
É assim escondida entre o céu e a terra que teimo em viver e respirar, indagando até quando durará esta dor surda que trago dentro de mim, escondendo-me na cegueira que tão cedo aprendi a usar, aquela que me oculta o que está lá, que dói e sempre doeu, que existe e permanece e me recuso a ver, por não querer acreditar ou, se calhar, apenas sentir, por não querer mais dores nem mágoas, recusar verter mais lágrimas, que ainda assim correm livremente pelas minhas faces, como um veloz rio o faz entre as margens sinuosas que acolhem o seu leito.
É assim que grito no silêncio, expludo no vazio e choro no abstracto de mim.
Inevitavelmente, a responsabilidade e a obrigação superam a desmotivação e o medo (sim, é verdade, às vezes tenho medo de viver, ainda que consciente de que a vida e cada seu dia são uma dádiva, que deve ser aproveitada até ao mais ínfimo segundo. Serei a única?).
Enveredo numa batalha quotidiana que é o aprender a saber viver só, a estar só, a sentir-me só. Guerreio contra mim mesma para continuar, nunca parar nem me deixar vencer pelo desânimo e pela frustração que teimam em persistir, em fazer-se anunciar nas alturas mais críticas e que, se calhar, deviam ser as melhores de mais uma época festivamente marcada no calendário.
Seria mais politicamente correcto ocultar o que sinto ou, ao fazê-lo assim, pública e despudoradamente, apenas espelho a verdade quando me deixo levar pela escrita impetuosa, alimentada pelo som da melodia ditada por um qualquer violino mais impertinente?
Vibro no ritmo e pergunto-me por que não na vida.
Vivo na escrita e questiono-me por que não fora destas quatro paredes, onde tudo sempre me parece tão frio e impessoal, tão semelhante ao vazio que preenche os meus dias ao saber que tu não vais estar ao meu lado.
Indago-me até que ponto me conhecerás e como conviverás com momentos como este, em que o Mundo parece desabar sobre mim e me sinto sem forças para continuar e insistir uma vez mais.
Questiono-me: Serás capaz?
Tenho medo e, ainda assim, sinto todas as minhas teimosia e persistência obstinada à flor da pele, prontas para entrarem em acção e me fazerem lutar por aquilo que acredito serem as minhas ambições.
Sinto desalento e, no entanto, encontro ânimo, nem que seja nas mais pequenas, ínfimas ou até insignificantes coisas: um telefonema, uma mensagem, uma carta. Também as há de maior importância, aquelas que quase não se conseguem descrever, por não existirem palavras que comportem todo o seu significado: um olhar, um toque, uma festa, um abraço, um carinho, um beijo.
Esta sou eu. Estes são os meus pensamentos que se perdem por entre o eco da solidão que me rodeia.
Este é, sei-o, um dia mau. Amanhã será certamente melhor e, depois de amanhã, outro dia virá.
É assim que me desnudo e me exponho ao Mundo, senão todos os dias, pelo menos hoje, aqui e agora.
Rosália, 3 de Dezembro de 2006
Os meus cantinhos