Foi então, na luz ténue e pálida de uma noite mal iluminada, que as tuas asas de anjo desceram sobre mim e me elevaram para fora deste leito frio e sem graça onde tentava inutilmente repousar.
Levaste-me e elevaste-me, num voo tão subtil quanto gracioso, mostrando-me mil estrelas e cometas, constelações diversas, um Universo infinito de sonhos e possibilidades...
Não ocultaste a tua natureza complicada e eternamente fugidia, mas alimentaste o sonho de um futuro distante em mim.
Nas tuas asas, o mundo onírico ganhou uma outra dimensão, quase mais forte do que a própria realidade. Nela vivi, retemperei forças e repousei de uma realidade nua e crua que teima ainda em fazer parte do meu quotidiano...
Nada é eterno e chegou a altura em que me devolveste ao leito, aquele em que, prometeras, havias um dia de repousar ao meu lado, fazendo-me viver mil voos de liberdade e prazer, imersa num mundo a explodir de sentidos, ao delirar com a doçura do teu toque, ouvir a tua voz doce e serena, ver o teu olhar que espelha o céu e o mar a cada novo despertar, inspirar o teu aroma suave e pleno de frescura, saborear enfim o gosto do teu beijo que ainda hoje desconheço...
Ao pousar sobre os lençóis, apreender a sua frieza e alvura, vislumbrei por fim que as tuas asas de anjo se esfumaram e eu fiquei tão só quanto sempre estive, apenas embalada naqueles breves instantes pelo doce engano do que pensei ser real...
Rosália
Os meus cantinhos