Este é o meu refúgio, o meu abrigo. Aqui espelho o meu eu, sob a forma dos meus pensamentos feitos palavras...
Quarta-feira, 3 de Maio de 2006
Luz branca

Paro.


Inspiro lentamente e olho à minha volta.


Ao meu redor nada mais do que o espaço de uma sala vazia. As paredes, lisas e brancas, cegam-me na sua nudez. Uma única janela, pequena, quase minúscula, esta lá mais ao fundo, na minha direcção. O chão, polido por anos consecutivos de passos e desgastado pelo tempo, deveras escorregadio, inibe-me os movimentos, os passos que sei serem necessários para poder atingir aquela luz, tão perto e ao mesmo tempo tão longínqua, de que preciso tanto ou mais do que uma inspiração que me dá o ar e me permite respirar, logo, viver.


Rodo lentamente sobre o meu próprio eixo neste nada que é tudo o resto. O mundo está ali, além daquela janela, além deste sítio que tenho como meu e no qual me sinto em segurança.


Penso.


Em tudo e em todos. Em tudo o que me é querido. Em todos aqueles a quem mais amo.


Questiono-me.


Será viável abandonar tudo isto em prol de um objectivo maior, egoísta talvez, que é o alcançar daquela janela, sendo que para tal terei de sair daqui, onde o chão é firme, e pensar por e para mim?


Hesito.


E se escorregar? Se cair? Se tiver de magoar alguém para atingir a luz e, em última análise, a liberdade?


Valerá a pena arriscar e SER EU ou é mais seguro permanecer no SER ASSIM?


Um poeta disse, um dia, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Palavras sábias apenas suplantadas pelo incentivo cego e premente de quem verdadeiramente me ama e que, sei-i, ainda que eu caia, lá estará para me amparar.


Um passo.


Avanço. Agora não há volta a dar. À parte tudo quanto possa acontecer, sei que tenho de alcançar aquela luz que me guia e motiva.


Escorrego.


A estranheza perante a falta de medo de quebrar o que era tido como inquebrável - às vezes uma simples postura de submissão e aceitação tidas como perenes e intocáveis - é muita e, até mesmo, mal recebida.


Estremeço.


Ao embater contra este rumo, procurando forçar a existência do que já passou e ficou para trás. Os piores obstáculos que temos de enfrentar num caminho como este são os inesperados e há-os por demais.


Caio.


Dizem que o que não nos mata torna-nos mais fortes, porque aprendemos. Na minha queda, a dor da pancada dupla dos embates sucessivos ao atingir o chão faz-me soltar lágrimas e sentir perdida.


Preservero.


Não vou desistir. Vou escorregar e cair mais vezes; se calhar, até mesmo partir algo mais que não apenas o meu coração. Contudo, nada é impossível nem inalcançável.


Sei.


Um dia vou atingir a luz branca. Já dei muitos passos desde então e a distância encurtou-se bastante. A cada um a liberdade é maior. Quando abrir aquela janela, voarei e, afirmo, serei uma pessoa melhor pois, doa a quem doer, serei EU!


 


Rosália



publicado por scorpiowoman às 00:25
link do post | comentar | favorito

3 comentários:
De aflores a 8 de Maio de 2006 às 19:20
Não desistas nunca. Melhores dias virão (tenho a certeza) e tu encontrarás o caminho para alcançar o que desejas. Mas nunca desistas.


De pankas a 4 de Maio de 2006 às 02:39
Momentos dificeis passas, fortalecida sairás.


De paulo povoa a 3 de Maio de 2006 às 08:53
O ser assim é o que a maioria é, é assim porque as pessoas gostam assim, e perde-se a identidade e passa-se a ser outra pessoa porque é isso que os outros querem e gostam.
Nunca se deve perder a identidade, e se as pessoas não gostarem do nosso Eu é porque nunca quiseram saber de quem realmente somos, mas sim queriam aquela pessoa que é assim, porque é a forma como a moldaram na sua mente e na sua vida.
Se começamos a ser o Eu, então podemos mudar radicalmente, mas na minha opinião o ser o Eu é o melhor que temos de fazer, porque somos nós próprios e isso é o que sempre devemos ser.
Devemos ser fieis ao que somos e não ao que os outros querem que sejamos.
Amo-te meu amor e sempre estarei aqui ao teu lado


Comentar post

mais sobre mim
pesquisar
 
Fevereiro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28


posts recentes

Há 43 anos

Oito anos depois

Incertezas

Até sempre, Minha Maria

Inesquecível

Hoje

Não mata, mas mói...

Aos meus Pais

Um novo Natal, o mesmo se...

Um ano depois...

arquivos

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Julho 2012

Maio 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Dezembro 2011

Junho 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Agosto 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Novembro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

tags

todas as tags

links
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub