Desperto e enrosco-me no teu abraço suave, quente e doce. Sinto o peso dos corpos fofos e peludos dos nossos bichanos em cima das minhas ancas, dos pés, o calorzinho do que se encosta nos meus rins e do que se aninha juntinho à minha barriga e ainda a suspensão graciosa e nada prática do gorducho-mor, que teima em dormir no meio dos donos.
Depois de um "bom-dia" ainda muito ensonado, quase dito para dentro, levanto-me enquanto o Apache vai contigo dar o seu passeio matinal, por entre pulos e corridas de alegria ao longo do corredor. "Quem me dera ter um bocadinho daquela energia toda!", penso, enquanto me dirijo para o banho.
Algum tempo depois, já vestida e agasalhada para enfrentar o vento frio que se faz sentir (mas sem chuva...), estômago aconchegado com um pequeno-almoço tomado por entre alguma calma, dirijo-me para a porta, a fim de levar-te ao trabalho. Abro a porta da varanda e o Apache sai logo lá para fora, o que me dá tempo de fechar a porta da sala antes que ele dê conta da minha ausência. Custa, mas tem de ser...
Brinco contigo por não ir trabalhar. Hoje e amanhã faço "gazeta", por conta do exame na faculdade, mas não quero cair no facilitismo de ficar no bem-bom quentinho do vale dos lençóis. Além disso, há assuntos que carecem de alguma urgência em ser tratados e, como tal, há que aproveitar bem o tempo.
Ao som do noticiário das 09h00, estaciono o carro ali mesmo ao lado do Jardim da Correnteza. Por incrível que pareça, não apanhei trânsito. Alimento o sempre guloso parquímetro, que me autoriza a por ali permanecer até perto das 11h00. Menos mal, tenho muito tempo para tratar do que preciso. Primeiro para um lado, aquele que fica mais perto. Depois, a dúvida: A distância ainda é grande até ao centro da Vila. Vou a pé? Levo o carro e pago outro lugar de estacionamento?
Escusado será dizer que a necessidade de exercício físico aliada à falta de moedas rapidamente solucionaram esta questão. Num ritmo certo e constante, dirijo-me ao meu destino. Durante o percurso, olho ao meu redor, contemplando aquela que será sempre a eleita do meu coração: Sintra, o meu refúgio, abrigo, paraíso... Tudo aquilo que mais amo ali tão presente em cada cor, folha, ave, movimento...
Do meu lado direito pousa e rapidamente levanta voo um pintassilgo com o peito escarlate luzidio. Em frente, a Volta do Duche surge esplendorosa com o ar fresco da manhã, que me gela e aquece em simultâneo. Observação curiosa, esta, que me faz sentir viva a cada novo passo. Não se vê quase ninguém nas ruas. Ocasionalmente, cruzo-me com um ou outro habitante, funcionário da câmara ou estudantes. Até ao Palácio não mais do que dois ou três turistas. Um deserto de gente. Um sonho para mim.
Confesso... Sou egoísta. Gosto de caminhar assim, por entre o relativo silêncio matinal, e sentir que aquela que ali se ergue a meus pés é toda minha: Tenho toda a beleza de Sintra só para mim! Nem assim consigo contemplar a imensidão e extensão da mesma...
Depois de tudo tratado, resta-me fazer o caminho inverso, não sem antes parar sensivelmente a meio e adquirir um belo pacote de queijadinhas, doces e estaladiças para estragar (mas só ao almoço!) o efeito desta enérgica e revigorante caminhada. Bem... qual almoço! Não resisto...
"Um café cheio e uma queijadinha, se faz favor!" Paciência! Faço dieta amanhã... Ah, que bem que sabe. Quem inventou estes docinhos fê-lo muito acertadamente :))).
Está na hora de regressar a casa... Bem, estava capaz de ir buscar o Apache e passar a manhã por aqui com ele, mas não pode ser. Tenho de estudar (estou sem vontade. Não me apetece, não me apetece, não me apetece! Pronto!) e fazer o almocinho, que hoje temos lá uma resmungona a fazer-nos companhia.
Fica a promessa de fazer isso mesmo: Vir de manhãzinha para aqui, apanhar o fresquinho, na companhia do canito (e na tua, quem sabe?) e encher-me de sons, cores e vida...
Até lá, é no refúgio dessa imagem que me concentro para encontrar forças e enfrentar o caminho que agora tenho de trilhar.
Boa semana!
Rosália :*)
Os meus cantinhos