(O AFlores é uma amigão... Dá cá mais cinco!)
Ao contrário deste lindo cachorrinho, super bem-disposto e tão bem tratado, hoje chorei, chorei mesmo muito, ao deixar para trás um menino que encontrei abandonado e, por razões várias, não pude trazer para casa. Fui entregá-lo na APCA (no canil, nunca) e deixei lá um pedaço do meu coração...
Encontrei-o enquanto procurava por outro, o Meco, que se perdeu no dia 19 de Janeiro, na Estefânea, em Sintra, e tem sido visto aqui por estes lados. Quando me dirigia ao carro, depois de ter recebido indicações de onde o menino que procurava tinha sido avistado pela última vez, apareceu um autêntico príncipe, lindo de morrer (quem sabe arraçado de pastor alemão), ainda cachorro, no cimo da avenida que subia. Dirigiu-se de imediato até mim, enroscou-se nas minhas pernas e pediu mimos. Fiz-lhe muitas festinhas e, em troca, recebi imensas festas e lambidelas...
Sem muitas dificuldades, agarrei-lhe na coleira e ele seguiu-me... Perdido ou abandonado, ainda tem uma coleira preta (com chapinha de metal aplicada) e o trinco da trela preso na mesma. Abri a porta do carro e ele prontamente subiu para o banco de trás (onde já tinha colocado umas mantas) e aninhou-se. A caminho da associação, liguei a avisar que tinha encontrado o canito... Disseram-me que não era o Meco, mas sim outro que também já havia sido avistado e dado como perdido/abandonado.
Não consigo encontrar palavras para descrever a gratidão, o carinho e a meiguice daquele animal. Muito menos para expressar como fiquei quando tive de entregá-lo... Este lindinho, sempre que eu saía do carro (primeiro para lhe levar um miminho para ele roer, depois para ir avisar na associação que já tinha chegado), passou imediatamente para o banco da frente e deitou-se enroscadinho no lugar do condutor (neste caso, eu). Quando a funcionária, a D. Luzia, (muito atenciosa e simpática - assim que compreendeu que eu não podia mesmo ficar com o cão e que o estava a entregar de coração nas mãos, ainda mais simpática foi), o tentou tirar, ele encostou-se todo ao banco, fincou as patas e só me deixou aproximar a mim...
Fui falando com ele, convenci-o a sair e fui-o guiando para o portão... E ele sempre a olhar para mim... Quando me aproximei mais da entrada, começou a tentar desenfiar a coleira e voltar para o carro. Não deixei. Chorava o meu coração e chorava eu...
Entreguei-o apenas e só na certeza de que, esta noite, o Príncipe (pronto, eu sei, não lhe devia dar nome... mas foi o que me surgiu) vai ter uma caminha para dormir, comidinha sem ser regateada e um tecto para o abrigar deste temporal de frio e chuva que teima em persistir.
A D. Luzia, ao ver-me com as lágrimas a correrem livremente, disse-me que posso aparecer sempre que quiser para o visitar, passear... Não sei, mas acho que vou tentar. Acreditem ou não, estas marotas cristalinas continuam a molhar-me a cara enquanto escrevo...
Eu entreguei um cão que não era meu numa associação que os acolhe e protege e fiquei assim, tão triste e atordoada que uma amiga minha me disse que eu devia era afastar-me destas situações, porque não me fazem bem nem ajudam em nada. Talvez... Mas vou ficar de braços cruzados e ignorar?
Choro, custa-me, atormenta-me e aquele bichinho só hoje cruzou o meu caminho, pedindo festas, mimo e carinho. Não chegou a ser uma manhã inteira, quanto mais um dia... Meu bom Deus, como é possível que haja gente que os abandona e deixa à sua (por vezes muito pouca) sorte sem olhar para trás? Como é possível?
Sei que haverá situações piores... Mas esta tocou-me. Muito. Profundamente.
Hoje chorei... e não terá sido última vez.
Rosália :*)
Os meus cantinhos