Foi um regresso esperado, porém temido; desejado e, ainda assim, quase escondido, até de mim.
Não consigo descrever a sensação de voltar a conduzir por entre o movimento confuso e barulhento da hora quase de ponta; tornar a batalhar por aquele lugar escondido, onde o carro cabe quase ao milímetro e esperar que ninguém o veja antes de mim; subir a antiga e alva escadaria e descobrir o amplo espaço do enorme hall interior renovado e muito mais luminoso; encontrar caras familiares, que se aproximam inesperadamente e questionam o por quê de tão longa ausência ou, curiosidade à parte, mostram contentamento por me ver ali, de novo entre elas.
Sei que hoje tudo se repetirá, quase à mesma hora, passando pelos mesmos sítios, encontrando muitas daquelas pessoas, vendo outros tantos sorrisos, mesmo pelo meio da maioria dos rostos carregados e sisudos.
Volto a parte da minha rotina, aquela de que, confesso, mais falta senti. Torno a sentir a picada do bichinho do saber e procuro questionar mais, aprender mais.
São muitas as alturas em que me interrogo sobre as minhas reais capacidades de atingir esta meta (para mim tão importante) que me impus. É nestas circunstâncias que - independentemente do facto de o timming das mesmas ser mais ou menos adequado - paro e procuro reflectir. Surgem então todas as dúvidas e incertezas; todos os medos e papões. O que fazer? Como prosseguir? Serei capaz?
Para todas estas perguntas, todas elas deveras assustadoras, tenho apenas uma resposta: Por muito que não acredite, que a minha auto-estima se degrade ou a confiança ceda, o único caminho que posso traçar, com mais ou menos obstáculos, é em frente, pois é o único plausível, credível e, para mim, aceitável. Hesitações aceitam-se; dúvidas compreendem-se; paragens definitivas não são permitidas, pois as mesmas seriam negar e contrariar a minha própria natureza irrequieta. De facto, sou incapaz de me deter muito tempo sem que tal implique algo de novo, que me preencha.
Em conversa com uma colega e amiga, tomei conhecimento da existência de um livro intitulado O Melhor Ano da Sua Vida. Pare de Sonhá-lo. Comece a Vivê-lo, ou algo muito parecido. Sempre me interroguei bastante sobre a realidade prática de livros como este e que tipo de carácter - essencialmente de auto-ajuda e fonte de crescimento pessoal - possuem no nosso quotidiano.
Não faço (nem ouso sequer ter tal intenção) juízos de valor sobre quem os escreve ou os leitores dos mesmos, mas questiono a sua utilidade. Lembro-me, inclusive, de uma vez me terem oferecido um livro do género - algo do estilo Como Tornar-se Uma Pessoa ou Melhor ou parecido - e do esforço que fiz para, perante a ofertante, não evidenciar o profundo desagrado que tal presente me causou.
Acredito que, para quem creia ou procure determinadas respostas (nem que seja apenas um melhor método de organização pessoal), estes "manuais" sejam úteis e, inclusive, forneçam meios aos seus leitores para que encarem o respectivo dia-a-dia de uma forma mais positiva e/ou gratificante. Porém, continuo a crer firmemente, ainda que, por vezes, não o pareça, que o nosso caminho, o nosso destino (se assim o entendermos), somos nós quem o traça; por mais livros, amigos, conselhos que existam, parte de nós a vontade de enfrentar, de viver e usufruir a vida e a decisão de como fazê-lo.
Quem me conhece sabe que mais facilmente encontro a dificuldade por entre mil e uma facilidades do que o oposto. Essa é, porém, a minha luta: Mudar este aspecto de mim, que considero menos bom, e encarar a vida pela positiva. Não é fácil, mas sem dúvida que torna tudo bem mais simples e confere aos obstáculos, que sempre surgem, um carácter ultrapassável e momentâneo.
Se me pedirem um exemplo, digo que o encontram neste simples texto, escrito na mesa de um simples café, esperando pelo meu amor. Estas linhas são fruto de alguma reflexão que me demorou anos (isso mesmo, anos) a realizar. A vida não é fácil e creio que todos concordamos com esta afirmação mais do que batida. No entanto, cabe-nos a nós decidir e escolher como queremos vivê-la.
Ainda que nem sempre me apeteça rir e muitas outras as lágrimas rocem os meus olhos, aprendi algo que, não sendo, de forma alguma, um caminho para a desresponsabilização ou sequer desculpabilidade, se define como: "Não pensar demais." É esse o segredo, pois, afinal, as coisas só têm, de facto, a importância que lhes atribuímos. Este é, para mim, o segredo. Demorei muito a desvendá-lo mas, agora, permitiu-me sorrir outra vez e, acreditem ou não, há quem agradeça muito por isso. Eu sou a primeira!
Boa semana para todos!
Rosália :*)
Os meus cantinhos