A entrada sempre alva e imponente. Majestosa.
Subo os parcos degraus da escadaria já gasta e contemplo as pessoas que ali permanecem. Umas esperam, outras conversam, por entre tantas que entram e saem, sempre apressadas e carregadas com volumes de livros, sebentas e apontamentos.
Entro e contemplo o largo e amplo espaço, comparável à nave de uma qualquer igreja. Esta catedral também o é, mas de sabedoria e conhecimento. Ao fundo, a parede parece iluminar-se e ganhar vida, enquanto contemplo as figuras ali aprisionadas, para todo o sempre, em azulejos minuciosamente trabalhados. Para lá da mesma, um vasto, amplo e assustador anfiteatro, o principal, onde os eventos mais marcantes tomam o seu devido lugar.
Caminho lentamente e constato que, em quase meia dúzia de anos, à excepção da entrada em funcionamento do novo edifício e de uma ou outra mudança em termos de logística dos departamentos, nada ou quase nada mudou. A casa e os rostos dos seus acólitos e funcionários são ainda os mesmos.
Sinto em mim um misto de emoção que procuro conter e resguardar num cantinho deste meu coração, agora tão cheio de ansiedade pelo que o futuro irá trazer.
Olho para o relógio e a minha memória vai e vem entre as recordações do que para trás ficou e o momento presente.
"Avôzinho", penso, "já não és tu quem me traz aqui, enfrentando as hostes adversárias do trânsito sempre caótico desse IC 19 irremediável. Agora sou eu quem com elas tem de lidar e aprender a controlar o nervosismo que trazer o carro para a cidade sempre me provoca. E sim, eu sei, tenho de deixar de ter o 'pé pesado', ser mais calma, etc., etc. Mas deixa lá, como todos os diabinhos têm sorte e tu até me ensinaste uns truques 'à maneira', arrumar o carro não tem sido muito complicado. Afinal, conhecer os cantos à casa até tem as suas vantagens."
Subo novo lance de escadas, desta vez para aceder ao corredor do departamento que tão bem conheço, à sala que já não contém a biblioteca do professor que lhe deu o nome, agora transformada no espaço onde vão decorrer as aulas. Tudo igual, exceptuando o fim da biblioteca do departamento, onde cheguei a trabalhar, cujo espólio foi agora integrado na principal, de acesso geral a todos.
Paro. Escolho uma das poucas cadeiras que por aqui se encontram espalhadas junto às paredes e sento-me. Pouso as coisas e olho à minha volta, em silêncio.
Os sons, os cheiros, tudo igual.
Tudo... menos eu.
De facto, seis anos são muita coisa, até uma vida. E esta é a minha nova vida, a minha nova condição. Trabalho, estudo... na certeza de que viveria e faria tudo outra vez para aqui chegar!
Boa semana para todos!
Rosália :*)
PS: No caso de descobrirem erros, por favor avisem que edito o texto outra vez. A esta hora já é um "cadinho" difícil ;). Inté...
Os meus cantinhos