Olho mas não te vejo mais. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Estendo os braços abertos, mas já não encontras o meu abraço.
Esboço um sorrio vazio enquanto encaro o espaço oco que se estende à minha frente.
Procuro-te por todos os cantos, recantos e não te encontro a não ser aqui, neste cantinho bem guardado dentro de mim, no mais fundo e profundo da minha alma, esse canto esquecido no meu coração.
Aqui estás tu, linda, calma, tranquila e serena. É um encanto olhar-te assim, nessa paz que emanas e sempre me tentaste transmitir, independentemente dos tempos tão conturbados através dos quais me guiaste, conduzindo-me a ser o que hoje evidencio perante mim e os outros.
Diz-me: Quem sou eu afinal? Por que razão acordo agora, quase seis anos volvidos sobre a tua partida, imersa nas imagens desesperantes do teu adeus, angustiada pelo teu silêncio tão cheio de palavras que não chegaste a pronunciar? Por que voltaram agora todos os momentos que quis esquecer e deixar lá bem atrás, no passado, onde pertencem? Por que não consigo esquecer as esperas imensas nos cuidados intensivos, a angústia de te ver na enfermaria onde os dias custavam a passar, o regresso a casa tão cheio de esperança e tão efémero, o teu fechar de olhos perante a minha impotência final, presa nos meus braços que não largaste até ao fim? Afinal, serei eu a filha de que tanto te orgulhavas e pela qual tanto lutaste?
Já não sei... Aflige-me a tristeza que sinto no meu coração. Angustia-me despertar de noite a chorar pela dor de te julgar aqui e, ao acordar, ver que tudo não passava de um sonho enganador.
Choro porque sinto a tua falta, porque por muito que procure sei que não vais estar lá quando olhar em frente ou para todos os lados.
Sei que tenho outra família agora, que tão bem me acolheu. Sei que tenho alguém que me ama (e como me ama, Deus meu!) ao meu lado, que tudo faz para que sejamos felizes e nada nos falte nesta labuta diária que é a vida de todos nós. Sei que tenho os amigos (alguns, muito poucos... cada vez menos), presentes nas horas boas e más, especialmente nestas últimas.
Sei tudo isso, aceito-o, agradeço e sigo em frente. Por quê? Porque é assim que tem de ser. Foi assim que me ensinaste o que é viver.
No entanto, preciso que me digas: Por quê? Por que voltas tão de repente? Por que me acordas a meio da noite julgando-te aqui e me deixas sozinha a chorar por não te ter mais?
Sinto falta de ti, do teu rosto, dos teus gestos, das tuas palavras.
Sinto falta do teu abraço, sempre tão apertado e sentido, dos teus carinhos, dos teus beijos.
Sinto falta do teu colo e do bater do teu coração.
Por que tiveste de partir tão cedo, afinal?
Deixaste-me à deriva de mim mesma e, por muito que prossiga nesta cruzada sem passado, apenas futuro, em busca da vida, não sei o que fazer sem a tua orientação. Fazes-me tanta falta...
Diz-me: O que faço? Como continuo? Responde-me! Preciso que me respondas... Nem que seja no silêncio daquele beijo que ficou por dar, no sorriso esforçado de um último gosto tanto de ti suspirado e arrancado à Ceifeira no último instante, no eco da chuva que teima em não cair ou na flor que espero ainda ver um dia brotar...
Responde-me, peço-te, e deixa-me dizer-te adeus ou até depois uma vez mais, para que ambas possamos descansar e encontrar a tranquilidade de nos sabermos finalmente em paz.
Sei que esta é e será uma despedida sem fim... até um dia.
Rosália.
Os meus cantinhos