Hoje é mais um dia igual a tantos outros. Não é qualquer data em especial, não aconteceu nada marcante, mas por uma vez apetece-me gritar aos quatro ventos (ou apenas ao que sopra lá fora) que tenho saudades de ti.
Não sei qual teria sido a tua reacção a este meu gesto, a estas palavras. Talvez ficasses emocionado, a dizer que já não compreendias estas "modernices".
Sinceramente não sei... Ainda assim, apeteceu-me partilhar com quem por aqui passa um bocadinho de ti, deixar a imagem que ainda hoje recordo do avô rabugento (o meu Avôzinho) que não queria animais em casa, que dizia que não ia ligar nenhuma e que, ao segundo ou terceiro dia de a nossa "piratinha" estar connosco, ao entrar em casa, fez primeiro uma festa à gata e só depois reparou na neta, a segurar na porta da rua, ainda de bochecha esticada à espera do beijo do costume. Não ia ligar nenhuma? Pois sim...
Tenho saudades tuas... Sabes por quê? Porque mais do que meu avô foste meu pai, meu amigo, meu professor. Criaste-me desde os dez anos, levaste-me em inúmeras viagens por este nosso Portugal, enquanto trabalhavas, durante as minhas férias de Verão, "pegaste-me" o gosto pela condução e ensinaste-me truques relacionados com carros que hoje tanto jeito me dão!
Adaptaste-te de uma forma extraordinária à mudança de mentalidades, da sociedade. Muitas vezes nem sequer parecia que estávamos separados por meio século de vida entre nós (quando eu nasci já tu contavas 51 aninhos)... Tinhas um espírito jovem e estavas sempre "em forma". Lembras-te de quando a Mãezinha (minha mãe/tua filha) dizia que nós os dois, ao embirrarmos um com o outro, parecíamos dois rapazes pequenos que a tiravam do sério? Era tão engraçada!
Tantas memórias... Quisera eu transcrever todas e nunca mais daqui sairia. Acho que davam um livro. Já viste o que seria? Deica cá ver um título... Que tal "28 Anos de Memórias"? Pois... também acho que não! Para o que me havia de dar hoje! Deve ser das saudades... Sinto tantas saudades...
Lembras-te das nossas pescarias? Eu também... Lembras-te daquela vez em que a "pescada" fui eu? "Segura a cana! Segura a cana!" E quando a força do puxão da carpa me fez cair sentada no chão e continuou a puxar-me água dentro, agarraste o meu braço e, com os teus 1,93 metros de altura e 118 quilos de peso, puxaste-me de uma só vez para a margem. Rogaste pragas à bicha, que partiu linha e levou isco, anzol e bóia pelas águas da barragem dentro e eu fiquei a olhar para ti, a rir-me com gosto. Dias mais tarde, fiquei também com uma nódoa negra para ajudar contar a história, que ainda hoje me faz rir ao olhar as fotografias de uma "pescadora" descalça e de calções, a pôr os ténis a secar ao sol quente de uma barragem deste nosso Portugal.
Olho para a frente e vejo a fotografia. Recordo o serão em foi tirada... Como nos divertimos. Reclamavas que era um disparate estar a tirar tantas fotografias à nossa "piratinha", mas acabou por ser a melhor ideia que alguma vez tivemos, não achas? Nunca esquecerei as gargalhadas que demos quando a Brida tentou trepar para cima da tua proeminente "barriguinha" ou apanhar o boneco de pelúcia com que a tentavas!
Meu bom gigante, meu querido avô... Dos cinco anos em que fomos só nós os dois ficam também muitas histórias para contar, mas para uma outra altura.
Agora, vou despedir-me como quando sabia que no dia seguinte sairias de madrugada, enquanto eu ainda estaria a dormir, para mais uma pescaria amigável ou um concurso de pesca desportiva algures. Vou deixar-te um bilhete, entalado no teu porta-moedas, para ter a certeza que o vês e lês, e vou escrever:
"Querido Avôzinho, espero que tenhas um dia bom e te divirtas muito! BOA PESCA! Beijinhos da neta reguila e refilona que gosta muito de ti!"
Boa-noite Avôzinho... Até um destes dias!
Rosália
Os meus cantinhos