É típico, muito típico do bom português passar a vida a queixar-se (e atenção que não falo de cor, também tenho essa "costela"... como boa portuguesa que sou, pois então). Porque chove. Porque faz sol. Porque está muito frio. Porque está calor demais. Porque há vento. Porque não há vento. Ai que as coisas estão tão caras...! Ai, se é tão barato não presta ou veio da China! Enfim, um rol interminável de queixas, queixinhas e queixumes, de lamentos e lamentações a propósito de tudo e ainda mais por causa de nada.
Somos assim, naturalmente insatisfeitos com tudo o que temos e o que não temos, com a Vida em si.
Depois, há dias em que nos deparamos com notícias de outros povos, de outros países, alguns deles até bem próximos, por razões várias, deste cantinho à beira-mar plantado que parecemos estar sempre a minorar, a negligenciar, numa onda constante de pessimismo. Há dias em que nos deparamos com algo como esta notícia. E levamos um senhor murro no estômago! Daqueles valentes, que nos deixam com uma dor e um ardor valentes, que parece que até nos tiram o ar dos pulmões.
Então, por breves momentos, paramos. Páro. E pensa-se:
"Caramba, que sorte tenho de morar neste cantinho à beira-mar plantado, com o clima um bocado trocado mas estável e que não nos prega partidas assim tão grandes!"
Ah e tal e a crise... Crise? Meus senhores, crise só se for a de valores (essa sim cada vez maior e gritante!) com que me deparo todos os dias, desde que saio de casa até que nela volto a entrar, salvo raras excepções, claro está. Crise? Só se for aquela que atinge quem trabalha e cumpre, porque aos outros... enfim.
Crise? Eu teria uma crise se perdesse tudo quanto tenho, mas acima de tudo, todos a quem amo e a quem quero bem de um modo tão cruel como o que aconteceu com estas pessoas (porque o eram, de carne e osso, como nós... embora a distância possa atenuar essa percepção). Aí sim, eu viveria uma crise.
O resto? O resto é relativo... Nunca ninguém disse que a vida é fácil (e qual seria a piada se tudo fosse conseguido sem um bocadinho de luta?), mas não há necessidade de fazer dramas (de que o bom português tanto gosta). Para novelas, já bem bastam as da ficção nacional!
Conformismo? Claro que não. Realismo, se faz favor.
E já agora, aproveitar um bocadinho para viver de facto a vida e dela tirar o devido "sumo", valorizando-nos e a todos quantos nos rodeiam e queremos bem; acreditando que, quando queremos algo, não há impossíveis e apenas depende de nós conquistá-lo; aprendendo que a insatisfação é, apenas, mais um caminho para a não felicidade.
Com esta me vou... Bom fim de semana!
Rosália.
Os meus cantinhos